João da Costa Rezende aka 'Carne Seca' - 'Jerky' (*) in English - because he had been a skinny kid in the slums of Rio de Janeiro-DF where he was born and raised. Jerky was a petty criminal who circa 1950, suddenly became notorious just because he was such a good-looking white fellow in an under-world where Black and Mulatto were the norm.
Adding to João's fame was the attention notorious singer Elvira Pagã paid him, sending him an autographed glossie which he actually never received in prison but knew about it. Elvira was also controversial due to her penchant for scandal and scanty clothes. It is said that Luz del Fuego, a naturalist bombshell who lived naked in a deserted island having only the company of snakes - was Carne Seca's admirer too.
This post is mainly the adaptation of a long article published in 3 January 1951, by a weekly illustrated magazine called Revista da Semana. The magazine tells a bit of João Rezende's story.
He was the only boy in a household with 3 sisters. His father worked for Rio de Janeiro's City Hall, then opened a corner-shop at a slum called Morro da Favela. In 1939, when João was 11 years old his father up and abandoned the family. Josefina the mother was left utterly helpless with 4 children to provide for. Soon, João was sent to Casa do Pequeno Jornaleiro (a newspaper homeless boys' house) a 'work-house' where he stayed for 3 years.
When he came back to the shanty town he was a teenager eager to excell... and he did it in the easiest way: petty crimes. He was soon jailed and became notorious for his spetacular getaways from the slam. Then, due to his good looks he was a target for the yellow press and that's what you'll read in this post.
(*) Jerky is lean meat that has been trimmed of fat, cut into strips, and then dried to prevent spoilage. Normally, this drying includes the addition of salt, to prevent bacteria from developing on the meat before sufficient moisture has been removed. The word 'jerky' derived from the Quechua word ch'arki which means 'dried, salted meat'.
19 tatuagens e 19 histórias diferentes. 'Carne Sêca' traz na epiderme a história de sua vida. Reportagem de Abdias Rodrigues e fotos de Walter Morgado para a Revista da Semana de 3 Janeiro 1951.
Do cubículo de sua cela, na penitenciária da rua Frei Caneca, no Rio de Janeiro, João da Costa Rezende olha o Morro de São Carlos e conta ao repórter Abdias Rodrigues como fugirá da próxima vez. Não hesita em advertir que usará arame e carretilha. O rapaz, usando de franqueza, aqui deixa seu aviso prévio:
FUGIREI OUTRA VEZ!
declara o conhecido herói das favelas . Fuga é uma circunstância na vida do sentenciado, prevista pelo Código Penal . Cristo fugiu às perseguições dos judeus . Belmiro Valverde e Otávio Mangabeira já fugiram um dia . Luiz Carlos Prestes continua fugindo . Num presídio só há presos e carcereiros, inclusive o diretor que é o carcereiro-mór . O retrato de Elvira Pagã, a história das tatuagens e a visita de Luz del Fuego.
Fumando espera – O cigarro é companheiro inseparável dos detentos e mesmo aqueles que nunca tiveram esse vício, presos, o adquiriram.
Leitor de Zamacois – A prisão é um cemitério de vivos, já o disse Eduardo Zamacois em ‘Os vivos mortos’ (Los vivos muertos) de 1929. Carne Seca leu e vive a rabiscar paredes.
Fujão! Enquanto os outros podem ficar nos pátios, ele vive preso numa cela. É o castigo que estão sujeitos todos os fujões.
Como o leitor pode ver da esquerda para a direita, ele aparece torcendo os lençóis que usou como corda. Em seguida quebrou a cama patente. O estrado de molas usou-o como escada. A cabeceira serviu para quebrar o vidro da claraboia e as grades que a protegia. Subiu, e com jeito, quebrou tudo, abrindo passagem. Uma vez no sótão do edifício chegou ao terraço. Depois, saltou o pequeno muro e pendurando-se nas cordas chegou ao outro muro que dá para o pátio numero 5. Aí ele adaptou um gancho na ponta da corda-de-lençóis e atirou no grande muro.
'Liberdade ou morte', teria dito 'Carne Sêca' antes de tentar o sensacional salto que o libertaria finalmente da prisão. Dentro da noite
enorme, enquanto os sentinelas dormiam ele procurava a liberdade. Chegou até
aqui sem maiores esforços e sem ser pressentido. Agora era o salto definitivo.
Não hesitou. Agachado no muro que divide o patio no. 5, chegou ao paredão que
dá para o Morro de São Carlos. A corda havia sido lançada, O resto era fácil.
João da Costa Rezende nasceu a 29 Abril 1928, num barracão do Morro da Favela. É, portanto carioca e conta atualmente 23 anos incompletos. É filho de João da Cruz Rezende e Josefina Alves da Costa, que praticou o suicídio recentemente. Seu pai foi funcionário da Prefeitura do Distrito Federal, onde trabalhou alguns anos, estabelecendo-se depois com uma pequena casa de secos & molhados naquele morro. Contam que o estabelecimento era frequentado diáriamente por vários malandros da redondeza, que contavam as histórias de suas valentias. Essas narrativas exerceram sobre o menino verdadeira sedução. Gostava de ouvi-las, repetindo-as depois com os garotos de sua idade. Os filmes de mocinhos e as histórias de vilões foram outras tantas influências que o levaram ao crime mais tarde.
João da Costa Rezende nasceu a 29 Abril 1928, num barracão do Morro da Favela. É, portanto carioca e conta atualmente 23 anos incompletos. É filho de João da Cruz Rezende e Josefina Alves da Costa, que praticou o suicídio recentemente. Seu pai foi funcionário da Prefeitura do Distrito Federal, onde trabalhou alguns anos, estabelecendo-se depois com uma pequena casa de secos & molhados naquele morro. Contam que o estabelecimento era frequentado diáriamente por vários malandros da redondeza, que contavam as histórias de suas valentias. Essas narrativas exerceram sobre o menino verdadeira sedução. Gostava de ouvi-las, repetindo-as depois com os garotos de sua idade. Os filmes de mocinhos e as histórias de vilões foram outras tantas influências que o levaram ao crime mais tarde.
Chegou assim aos 11 anos, em 1939. Nessa época, ignorando os motivos,
viu seu pai se separar de sua mãe. Abandonada pelo marido, esta arcou com
grandes dificuldades , enfrentando a miséria que lhe batia à porta.
Sentindo-se à vontade, liberto da autoridade paterna, João
ficou livre também para as ações que copiava dos ‘valientes’ da zona. Como era raquítico puseram-lhe o apelido de ‘Carne Seca’. Sua mãe
não dispunha de energia o bastante para domá-lo. Tornou-se então uma criança
temida por todos e repudiada pelos outros meninos. Tal situação obrigou dona
Josefina a recorrer às pessoas de suas relações para interná-lo na Fundação
Darcy Vargas, onde esteve 3 anos. Trabalhando como pequeno jornaleiro. E foi campeão
numa competição organizada pela Fundação.
Em sua infância, o pequeno João, teve aspirações. Ora queria
ser médico, ora engenheiro: mas nunca conseguiu nem mesmo terminar o curso
primário. Deixando a Fundação, arranjou um emprego de vidraceiro, trabalhando
no ofício algum tempo.
Data dessa época o seu casamento com Lêda. É também de então
o seu 1º contacto com a polícia. Morava numa ‘cabeça de porco’, onde travou
conhecimento com um tal de Joel, que foi morto tempos depois. No quarto de
Joel, um dia, a polícia apreendeu vários objetos roubados. Sua ligação com o
meliante deu margem a suspeitas. Viu-se,
portanto, envolvido e preso. Embora protestasse, dizendo-se inocente ,
arranjaram-lhe três processos. Desde então, afirmou, ‘tornei-me um revoltado’.
Posteriormente, João foi condenado por 5 arrombamentos no 20º
Distrito; 2 assaltos no 21º Distrito, além de outros crimes de tavolagem e
sedução de menores. Perguntamos-lhe pelo bando que chefiava e ele respondeu que
nunca teve bando, que o bando só existe na cabeça da polícia. - ‘Sempre agi
sozinho’, acentuou.
‘Apenas uma vez fui obrigado a admitir alguns trabalhadores’.
Foi quando assaltei um ônibus. E foi uma das boas batidas que fizemos. Depois
de virar a caixinha do coletivo, tomamos as carteiras dos homens e as joias das
‘donas boas’.
- Você não sente remorso do que fez?
- ‘Que remorso, que nada. Fizemos uma boa farra. Vendemos
algumas joias e outras as oferecemos às nossas cabrochas.
- Se um dia você se encontrar conosco, na rua, terá coragem
de nos assaltar?
- ‘Por que não?! Salvo se quando eu meter o revólver no seu
peito, você disser: - ‘Que é isso, Carne Sêca, livra minha cara’, está me
estranhando?
João da Costa Rezende está condenado a 7 anos de prisão. Já
cumpriu 2 anos e 6 meses. Durante esse espaço de tempo fugiu 3 vezes. Primeiro
pelo esgoto, juntamente com outros presidiários. Depois, quando era escoltado
para o Tribunal do Juri, conseguiu burlar a vigilância dos soldados e escapou.
Nessa ocasião foram mobilizados mais de 300 policias para sua captura. Houve batidas
e cercos em todos os morros. Receoso de ser morto a qualquer momento, resolveu
entregar-se ao juiz Teles Neto, que o mandou a exame no Instituto Medico Legal.
As três irmãs de João. Duas ainda estão solteiras e são simpáticas. Ao contrário do irmão, são de boa natureza. Em baixo: João entre a mãe adotiva e a irmã caçula. Sua mãe biológica suicidara-se recentemente.
Dona Josefina Alves da Costa, mãe de João 'Carne Seca' pouco tempo antes de se suicidar, ainda vivendo no Morro da Favela. Na foto abaixo, a irmã mais velha de João, casada e mãe de 2 filhos, também morando na Favela.
As três irmãs de João. Duas ainda estão solteiras e são simpáticas. Ao contrário do irmão, são de boa natureza. Em baixo: João entre a mãe adotiva e a irmã caçula. Sua mãe biológica suicidara-se recentemente.
Dona Josefina Alves da Costa, mãe de João 'Carne Seca' pouco tempo antes de se suicidar, ainda vivendo no Morro da Favela. Na foto abaixo, a irmã mais velha de João, casada e mãe de 2 filhos, também morando na Favela.
- Da próxima vez não me agarram mais. Fui pego agora porque
estava duro, sem um tostão.
- Estava mesmo esperando armas?
- Estava sim. Esperava 2 ‘paus de fogo’.
- Só dois?
- Para que mais? Só tenho duas mãos.
- E quem ia lhe arranjar essas armas?
- Bem, isso eu não posso dizer senão vou comprometer ‘alguém’
que é muito minha amiga.
- Então...
- Sim, é mulher e chama-se Maria. É tudo o que lhe posso dizer.
- Naturalmente, um de seus amores. Não é verdade?
- É uma criatura a quem eu quero muito bem e que faz tudo
por mim.
- E essas tatuagens que tem no corpo, têm alguma história?
- Sim, cada uma lembra-me uma história de amor que vivi.
E apontando no peito: ‘Aqui está o nome de Lêda, que foi meu
maior amor. Mandei riscá-lo por que ela me traiu. A loura do braço direito foi
minha amante. A cruz e o coração, são um segredo inconfessável. O São Sebastião,
tatuado nas costas, é porque sou devoto desse santo. Enfim, ao todo são 19
tatuagens e 19 histórias.
- Você fugiu para ir se encontrar com alguma dessas
mulheres?
- Eu fugir para ir ter com mulheres? – disse admirado –
Nunca! Para isso não é preciso fugir. Nunca vou ao encontro das mulheres. São
elas que vêm ao meu encontro.
E apanhando um retrato de Elvira Pagã:
- O senhor deve conhecer essa ‘dona boa’.
- É Elvira Pagã, respondemos.
- Pois é minha fã. Mandou-me um retrato autografado, que
aliás não chegou às minhas mãos. Sei disso porque ‘gente liga’ que tenho aqui
dentro me falou. A qualquer momento desses a Luz del Fuego virá me visitar,
estou informado. Isso é só para falar de gente de cartaz, afora brotinhos e
mais brotinhos que vivem a suspirar por Carne Seca. Dizendo isso, deu uma
gargalhada e acendeu um cigarro.
- Você sente-se bem com a publicidade que tem?
- Nem sempre. As vezes fico receoso e lembro-me do Zé da
Ilha. Coitado! Era u’a moça. Foi a policia quem o matou. Deu-lhe cartaz e
depois dizia que tudo de ruim que aparecia era feito por ele. A policia nunca me deu ordem-de-prisão. Quando me vê começa logo a atirar. Felizmente
eu tenho o ‘corpo fechado’. Bala em mim
não pega.
- Dizem que você tem ‘santo enterrado no corpo’, é verdade?
- ‘Enterrado no corpo’, não! Mas trago no pescoço e sei
rezas que minha Mãe me ensinou.
- Como consegue fugir?
- Muito simples e muito fácil. Rasguei 4 lençois e 1
cobertor. Fiz cordas. Quebrei a cama-patente. Com as molas fiz um gancho. Com
os pés da cama quebrei a tela-de-ferro que protege a claraboia. Em seguida
quebrei o vidro. A cama me serviu de escada. Subi. Saí no sotão, cheguei ao
terraço. No bueiro coloquei um pé da cama e amarrei a corda-de-lençois. Desci
até o muro que separa o patio no. 5 de outro pátio. Andando, escanchado,
cheguei ao paredão do muro. Joguei a corda com o gancho. Subi o muro e pulei do outro lado. Estava,
assim, livre. O resto todo mundo já
sabe. No Morro do Jacarezinho, estava no barracão esperando 2 ‘paus de fogo’ e
uma ‘gaita’ para fazer a pista para bem longe, quando fui preso por 2 soldados
da policia militar.
- E os guardas não viram nada?
- Não viram nada e não tem culpa alguma. Planejei tudo muito
bem. Quando chove, os pátios, principalmente o no. 5 cujo fundo dá para o Morro
de São Carlos, ficam com 1 metro de lama, devido às enxurradas do morro.
Sabendo disso esperei a chuva. Sabia que com a lama e o temporal os guardas não
ficariam no pátio no. 5. A minha fuga não foi improvisada. Foi, aliás, pacientemente
estudada. Daí a razão do êxito. Da próxima vez, talvez, eu saia daqui voando –
disse sorrindo. Eu estou no 4º andar: lá
está o Morro de São Carlos, apontou. O
muro não chega a ter a altura de 2 andares. Há, portanto, grande declive. Com
um rolo de arame e uma carretilha eu posso sair daqui voando e atiro o rolo
como se fosse serpentina. Adapto a carretilha e pronto...
Assim falou Carne Seca. Essas são suas perspectivas para a
próxima fuga. Que diz a isso o diretor da Penitenciária?
bombshell singer & show-girl Elvira Pagã, seen her at her kitchen showing how her oven works - was said by the popular press that she was Carne Seca's fan. She sent him an autographed glossie that never reached him.
bombshell singer & show-girl Elvira Pagã, seen her at her kitchen showing how her oven works - was said by the popular press that she was Carne Seca's fan. She sent him an autographed glossie that never reached him.
Carne Seca finally flees from prison at Ilha Grande; at Manchete 20 October 1962
Casa do Pequeno Jornaleiro
A Casa do Pequeno Jornaleiro foi fundada em 1940, por Darcy Vargas, a 1a. dama do país, com o objetivo de amparar meninos que vendiam jornais e dormiam nas ruas no Rio de Janeiro. Era um internato onde garotos abandonados moravam e estudavam o curso primário. Eles saíam para vender jornais durante o dia, retornando à noite para dormir.
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